Donald no País da Matemágica
- Leonardo Campos
- 24 de mar. de 2023
- 6 min de leitura

Sabe a famosa Catedral de Notre Dame, conhecida vastamente graças ao romance de Victor Hugo? E o Partenon, obra-prima da arquitetura grega, importante marco da história da construção ocidental? Em algum momento de sua vida, já visitou, viu foto ou assistiu alguma reportagem que contemplava o edifício sede das Nações Unidas, situado na cidade de Nova York? E, acredito, mesmo que nunca tenha observado de perto, provavelmente você já deve ter visto uma das obras de arte mais famosas da pintura, a Monalisa, assinada pelo gênio Leonardo Da Vinci, não é mesmo? Este panorama preambular foi estabelecido por aqui, caro leitor, para lhe apresentar a importância dos estudos matemáticos em nossa vida cotidiana. Todas as obras mencionadas na abertura são ícones palpáveis e possíveis graças ao desenvolvimento da matemática, disciplina que ao longo da evolução da humanidade. Foram criadas com base no entendimento da geometria, álgebra, etc. Apesar de muita gente ainda ensinar este componente curricular por meio de fórmulas e regras para memorizar, se torna importante compreender o quão a matemática está em nosso fluxo diário de atividades, nas missões mais simples.
Quem descobre isso de maneira muito divertida e didática é o famoso Pato Donald, numa animação lançada em 1957. Além de permitir momentos de descontração, a produção é um ótimo recurso para transformar a sala de aula dos estudiosos de matemática.
A Narrativa em Donald no País da Matemágica
Uma animação que transforma a complexidade da matemática numa fascinante jornada de entretenimento e aprendizagem. Assim é Donald no País da Matemágica, narrativa de 27 minutos dirigida escrita por Milt Banta e Bill Breg, com argumento de Heinz Haber. Lançado em 1957, a produção traz números, figuras, funções, apresenta objetos abstratos em relação, numa demonstração da posição dedutiva dos estudos matemáticos. Donald, em sua jornada, nunca mais retorna como o mesmo. Ele deixa de ser leigo e compreende que a matemática está em tudo ao redor. Ao sair para momentos diletantes, embarca numa aventura repleta de fórmulas e números, narrada de maneira muito eficiente por Paul Frees, figura invisível que reforça para o personagem o potencial que será alcançado no desfecho da experiência, caminhada que nos permite lembrar o audacioso projeto de Lewis Carroll em Alice No País das Maravilhas.
Logo na abertura, temos uma metáfora bem interessante. Donald tem a sua sombra projetada assim que chega à caverna onde viverá suas intensas aventuras. Temos ai uma referência ao Mito da Caverna, atribuído ao filósofo Platão. Enveredado por raízes quadradas, impactado por uma cachoeira que desagua algarismos, quadrados e círculos numa área de basquete e amarelinha, dentre outros, o personagem descobre como o conhecimento matemático permitiu que outras áreas, tais como a biologia, a medicina, os esportes e tantos espaços de interação da humanidade, não teriam avançado como conseguiram. É uma aula divertida e dinâmica, material que atrai não apenas o público mais jovem, mas também conquista aqueles interessados em conhecer mais sobre as coisas que gravitam ao nosso redor cotidianamente.
O narrador nos faz compreender a relação da geometria com as atividades esportivas, as contribuições para tantas invenções, como por exemplo, o microscópio, num passeio onde Donald, tampouco nós, espectadores, saberemos o que será encontrado. Com design que permite uma estruturação narrativa cheia de referências visuais fascinantes ao campo matemático, a animação aborda também o advento da música na Grécia Antiga, delineando as contribuições de Pitágoras para o desenvolvimento de instrumentos e notas que até os dias atuais, são a base para a arte em questão. A Regra de Ouro, admirada também pelos gregos por suas proporções de cunho belo, é apresentada mais adiante, numa abordagem sobre tópicos acerca da divina proporção e das espirais logarítmicas.

Numa viagem ao período renascentista, Donaldo no País da Matemágica continua dando ênfase ao interesse dos filósofos e artistas pela proporção áurea, muito utilizada no campo da pintura, destacando como até mesmo a natureza faz uso constante dos padrões matemáticos para exibir as suas exuberantes manifestações. Para que a viagem seja didática e os resultados, eficientes para Donald, o narrador pede que o personagem arrume a cabeça, isto é, pondere a organização do raciocínio para que os resultados alcançados sejam funcionais. Em linhas gerais, aponta o quão importante é o direcionamento e concentração para o alcance de respostas na matemática. Quando se permite, o pato da Disney descobre o fascínio dos cálculos de área, o volume das coisas, a presença as arestas e figuras espaciais que estão em nosso contexto diário.
Tudo isso, sem transformar a aventura numa aula maçante e esquemática de matemática, componente curricular estereotipado em nossa sociedade, conhecido por ser de alta complexidade e de pouco acesso, em suma, restrito aos gênios. A ideia sobre os matemáticos, figuras que integram um imaginário que os transforma em membros de uma fraternidade, parte de uma elite hermética, ganha nesta animação um olhar diferenciado. Não podemos, no entanto, deixar de lado o contexto histórico de produção, denominado como Guerra Fria. A União Soviética se encontrava com os investimentos em pesquisa muito avançados, por isso, os estadunidenses precisavam se estabelecer melhor para a concorrência de seu oponente. Donald no País da Matemágica é fruto desta época, uma narrativa que reflete a educação matemática para as massas como uma estratégia de desenvolvimento do potencial para os enfrentamentos.
Diante do exposto, ainda hoje, podemos dizer que a animação funciona muito bem como material para diversão, além de sua estrutura pedagógica. Aqui, temos pássaros com bicos de lápis e corpo de esquadro, bem como árvores com raízes quadradas: dimensão estética para ampliar o entendimento. Passagens que demonstram a sinuca, o xadrez, o basquete, o futebol e tantos outros esportes relacionados com fundamentos geométricos: reforço narrativo sobre a presença da matemática em nosso cotidiano. A dança, algo fincado em nossa cultura, também recebeu contribuições deste campo. O corpo humano: também organizado matematicamente. São muitas as referências para enumerar, mas desde já, um conselho ao leitor: é uma jornada incrível e ainda muito atraente, mesmo com efeitos da década de 1950. Ao contrário, os efeitos sofisticados para a época, mas já datados para o público contemporâneo, conseguem transmitir com didatismo as questões dispostas pelo roteiro. No geral, divertido e muito informativo.
E na Sala de Aula?
Para aplicação na sala de aula com os seus estudantes, caro leitor, torna-se relevante seguir o passo a passo tradicional inicialmente: exibir o filme na melhor condição, isto é, com imagem e som de qualidade, tendo em vista atrair e manter os alunos envolvidos. Depois da exibição, o indicado é ler um texto base, previamente selecionado, bem como promover um debate sobre a narrativa para obter o retorno do grupo sobre as impressões iniciais. Aqui, o professor é um mediador. Caso seja viável, criar uma roda de conversa e selecionar pessoas para impulsionar as reflexões também pode ser uma opção muito eficiente. Ademais, solicite que os estudantes elaborem um mapa mental sobre a produção. Esta é uma maneira interessante de compreender como cada um assimilou o que foi apresentado pela narrativa. Há diversas possibilidades ao utilizar Donald no País da Matemágica na sala de aula. Pode ser para debater um tópico específico, como por exemplo, geometria ou raízes quadrada, mas a atividade ganha maior significância se abarcar todos os pontos debatidos pela história, um compêndio que pode funcionar como revisão para os estudantes ou introdução ao novo tema proposto pelo professor.
Ademais, se for interessante ao mediador e ao grupo estudantil, elaborar uma proposta interdisciplinar garantirá sucesso, numa atividade bastante dinâmica, com possibilidades de reflexões sobre a presença da matemática em nosso cotidiano. O professor, aqui, pode flertar com a ideia do espírito narrador da animação e dialogar com os estudantes sobre como a matemática está muito além das atividades do livro didático. Quando utilizamos um transporte qualquer, calculamos distância, o valor de investimento, o tempo para deslocamento. Ao fazer compras, enumeramos itens, pensamos sobre medidas, pesos, descontos, preços dos produtos, o troco a receber. No uso da tecnologia, em especial, nos aplicativos, precisamos conferir o tempo que ainda temos de bateria no smartphone. Ao partir para a cozinha, seja para um lanche básico ou jantar mais elaborado, precisamos entender as quantidades de cada ingrediente, o tempo de cozimento de cada material, em linhas gerais, uma jornada de números e fórmulas para fazer tudo sair da melhor maneira. Assim como Donald em sua viagem pelo país da Matemágica, ainda temos muitos estudantes que precisam organizar as suas ideias, desconstruir a ideia da complexidade matemática exclusiva para gênios e entender que, na dinâmica desta compreensão, todos conseguem construir assertivamente as suas respectivas cidadanias.
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