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ENADE: Professor Leonardo Campos fala sobre a Relação entre campo e cidade, desenvolvimento urbano

  • Foto do escritor: Rony
    Rony
  • 12 de set. de 2022
  • 6 min de leitura

Atualizado: 1 de out. de 2022

Olá estudante, como estão os estudos?


Nesta jornada rumo ao ENADE, torna-se importante investir em revisões ao longo de nossa caminhada, bem como algum investimento em Conhecimentos Gerais e tópicos temáticos de Atualidades que englobem assuntos diversos. Na aula de hoje, dialogaremos sobre a Relação entre campo e cidade, desenvolvimento urbano e rural e qualidade de vida. Vamos nessa?


Campo e cidade são formas que os teóricos consideram concretas. Urbano e rural seriam representações sociais, elementos que compõem os conteúdos das práticas de cada sujeito, instituição, dentre outros. Os trabalhos acadêmicos oriundos de pesquisas científicas na área nos últimos anos têm destacado que as relações entre campo e cidade, rural e urbano passaram por muitos avanços, pois ambos compõem um continuum, são partes de um todo, mesmo que nalguns momentos, o campo não seja tão rural e a cidade não seja tão urbana. Em linhas gerais, são polos que se complementam, não se opõem, justamente por suas diferenças, sem se excluírem mutuamente, como geralmente as pessoas acreditam. Com o processo de industrialização constante da agricultura, desde as revoluções dos séculos passados, tem se eliminado a separação entre cidade e campo, rural e urbano. O desenvolvimento do capitalismo moldou o que antes era constatado como separado, sabe? É uma temática para muitos debates. Vejamos o que Milton Santos descreveu sobre esta divisão, por exemplo, ao colocar que as regiões urbanas possuem atividades rurais, assim como áreas agrícolas possuem demandas urbanas, e vice-versa. No geral, são paisagens sonoras diferentes, com visuais distintos, mas que se complementam. Os debates sobre tais definições ganharam mais força nos anos 1970, quando diversas áreas do conhecimento, tais como a Sociologia, a Economia e a Geografia começaram a buscar renovação para este tópico temático cheio de paradoxos.



Para tornar o nosso papo tão didático quando a sua exposição, elenca para os nossos leitores as considerações sobre o espaço rural?

"O campo, ou como alguns designam, o rural, é tido como o local onde as pessoas viviam dispersamente, um lugar do trabalho natural, território que na concepção dos dicionários, traz palavras-chave do tipo rudeza, rusticidade, etc. Como coloca P. Bagli em Rural e Urbano: Harmonia e Conflito Cadência da Contradição, texto de referência, publicado em 2006, o rural, quando denominado fora da ideia do continuum anteriormente mencionado, é apresentado com as seguintes características: rústico, inculto, grosseiro, tosco, labrego, saloio, desajeitado, sem elegância, ingênuo, simplório, atilado, estúpido, esquivo, bisonho, inacessível ao amor, agreste, dentre outros. Rural vem da raiz “rus”, conceituada como antagonismo de “urbs”, por isso, o que é “rusticus” está constantemente conectado ao que é inferior, ao desajeitado, excessivamente simplório. A diferença ocupacional é outro ponto tratado como critério para compreensão desta relação, sendo o rural o lugar de atividades ocupacionais diferentes do urbano, com trabalhadores que exercem as suas funções ao ar livre, em maior proporção que aqueles das zonas urbanas, mais próximos da natureza. No geral, no rural, os hábitos se edificam com base na intensidade das relações entre terra e trabalho, isto é, é desta dinâmica que os rendimentos são extraídos, seja em forma de produtos para o autoconsumo, seja em forma de produtos para gerar comercialização."

E sobre o espaço urbano?

"A cidade é tida como o espaço da reunião, das aglomerações, dos encontros de todo tipo: políticos, religiosos, etc. O que é urbano, na concepção geral, é mais móbil que a dinâmica rural, deslocando-se mais de lugar, de suas ocupações e lugares sociais, diferente nas correntes de migração, além de seu suposto sistema de integração social, pois acredita-se que os moradores rurais teriam menos contato com um número específico de pessoas em suas trajetórias. Os habitantes das cidades são separados do contato maior com a natureza, diante das paredes das gigantes construções urbanas e pelo ambiente artificial da cidade erguida por concreto. A calmaria e tranquilidade do campo, algo que também associo com poemas do Arcadismo e suas ressonâncias na cultura contemporânea, diferenciam-se dos sons e movimentos da sociedade tecnológica do Modernismo e do Pós-Modernismo, mencionados em minhas aulas sobre o tema quando trabalho em associação com referências literárias para engajar o repertório cultural dos participantes. Ademais, para complementar minha fala, com base na exposição deste evento, nos ambientes urbanos, dizem que é um espaço de mero chão, onde nada se retira para cultivar com o fim de termos a obtenção de sobrevivência ou rendimentos, um território que assume a seguinte dimensão: é uma terra onde as relações se realizam por meio daquilo que sobre ela se encontra construído. "

Você trouxe um episódio de Sex and The City para ilustração do encontro, algo que considerei no mínimo inusitado, haja vista ter versado antes sobre “narrativas mais clássicas”, tipo Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Os episódios da série mencionada são curtos e muito envolventes, além de permitirem entendimento até mesmo daqueles que desconhecem o que aconteceu anteriormente em sua linha narrativa. Em O Campo e a Cidade, temos a protagonista Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, tendo que realizar concessões com o seu namorado. Ela vive uma relação segura, saudável, coisa que há tempos não acontece em sua vida, por isso, se permite passar alguns dias no campo, espaço visto aqui dentro do paradoxo que o delineia como ambiente do atraso, do rústico, algo totalmente diferente de sua rotina cosmopolita pelas ruas novaiorquinas. Ela é a cidadã da grande metrópole, lugar onde se dorme pouco, fuma-se muito, encontra-se os amigos em boates e restaurantes badalados, muito diferente do campo apresentado no episódio, lugar onde os animais cruzam a linha da floresta e invadem o cotidiano daqueles que ali habitam. Considero esta uma ilustração ideal para refletir sobre as concepções do que muitos ainda definem em relação aos eixos de rural e urbano. No caso de Vidas Secas, como mencionado anteriormente, delineio o romance de Graciliano Ramos para permitir ampliação do repertório cultural dos participantes, pois além de debater a noção de campo/rural do Romance de 30, dialogo com uma das obras-primas da literatura brasileira moderna, algo importante para um encontro de Conhecimentos Gerais.

O encontro também versou sobre qualidade de vida. Como este tópico adentra nas relações entre campo e cidade?

Vejo que muita gente sequer tem noção do que de fato é qualidade de vida. No caso deste encontro, versar sobre qualidade de vida é pensar a presença do ser humano nos espaços urbanos e como estes indivíduos lidam com os fatores ecológicos, sociais, econômicos, ambientais, dentre outros, envolvendo o território em que vivem. Conscientizar-se sobre o que são seus direitos e deveres nesta dinâmica também é algo essencial. A ONU define qualidade de vida como o bem-estar espiritual, físico, psicológico e emocional, além de prezar pelo bom relacionamento social dos indivíduos, bem como habitação, lazer, segurança e outras circunstâncias de vida, devidamente asseguradas em suas dinâmicas sociais. A comunicação, como salientei, ocupa um posicionamento importantíssimo neste processo, afinal, com o estabelecimento das sociedades tecnológicas, as informações chegam no fluxo bem maior que antigamente e além de informar, que é o básico, a comunicação também se torna grande responsável por permitir, em tese, que as pessoas tenham acesso ao que acontece e instigue o poder público no que concerne as respostas/resoluções para tudo aquilo que é problema e que ameaça a sua qualidade de vida na cena urbana, principalmente em nosso país, conhecido por seus projetos desumanizados, opressores das populações mais pobres e de alta especulação imobiliária para aqueles detentores de maior capital. Acho que trechos de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, e cenas de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, ajudaram bastante nas ilustrações deste tópico.

Se depender deste tópico dos Conhecimentos Gerais, temos então a garantia de uma boa relação com a prova do ENADE, caso seu estudante encontre uma questão com o tema?

Mas isso vai depender muito do estudante, pois a prova do ENADE não é uma avaliação para testar conteúdos decorados, mas observar como os formandos estão saindo da instituição de ensino onde desenvolveram a sua graduação. Eu, por exemplo, sou um profissional de Comunicação Social e Letras, mas não tenho impedimento algum para trabalhar com o tema, pois é algo de Conhecimentos Gerais e associado com objetos de reflexão da área em que atuo. Estes conteúdos foram revisados neste encontro, mas nós presumimos também que o estudante tenha uma noção básica dos tópicos que foram levantados, pois o mundo, o mercado de trabalho e as nossas relações pedem isso, sabe? Indivíduos críticos, leitores, debatedores, pessoas cidadãs e questionadoras que sejam especialistas em suas áreas, mas que dominem uma noção geral das coisas. E isso uma aula revisão não consegue dar conta, apenas sugerir caminhos para rememorar tópicos. Torna-se necessário que o estudante seja uma pessoa leitora, não apenas de textos verbais e não-verbais, mas observador do mundo que o cerca.

Siga o escritor em seu perfil @leodeletrasecinema

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