Questões essenciais no Planejamento de Carreiras
- Ronaldo Anunciação
- 18 de out. de 2023
- 14 min de leitura

Professor Leonardo, introduz de maneira geral as peculiaridades do evento sobre Planejamento de Carreira e destaca o que o leitor encontrará no livro lançado.
A lição central deste encontro e da publicação é básica: o planejamento é uma forma assertiva de prevermos obstáculos que surgirão em nossas jornadas, os caminhos traçados para alcançar um determinado objetivo. Em nossa trajetória, vamos nos deparar com vários, por isso, é essencial saber lidar com as adversidades para alcançar as metas e não transformar em caos a vida pessoal, afinal, uma coisa está conectada com a outra, compreende? Como Vivian Faria traz em seu livro Manual de Carreira: Identifique e Destaque o Talento que Existe em Você, publicado pela Editora Saraiva, em 2009, o caminho para o crescimento na vida profissional não é apenas uma somatória do conhecimento na vida pessoal e de trabalho, mas o resultado dos conhecimentos, experiências, reflexões e autoconhecimento estabelecido nesta jornada. Por isso, imprescindível estabelecer um caminho coerente, em que sejam traçadas as metas de maneira objetiva, num desenho de projeto de vida que tenha focos e prazos muito bem delineados. É, em linhas gerais, o que abordaremos por aqui. E, o que está disposto em meu livro.
“Planejamento é vida!”. Esta é uma das observações que você faz constantemente em sua abordagem. Comenta mais sobre a importância do planejar não apenas para a carreira, mas também para outras esferas de nossas vidas?
Todos nós temos anseios, desejos, sonhos. Planejar, em minhas abordagens, passa por estas questões. Precisamos traçar metas e, ao planejarmos, alcançamos os objetivos desejados. Planejar é colocar em análise as necessidades que temos e, diante disso, buscar caminhos que nos satisfaçam, assegurando a realização do que estabelecemos como meta. É uma estratégia de autoconhecimento, onde podemos identificar e avaliar possibilidades profissionais. Em um mundo de constantes mudanças e muitos obstáculos, torna-se imprescindível ter um planejamento esquematizado para tudo. Em linhas gerais, o planejamento é uma função administrativa em nossas vidas, sendo uma das mais importantes, pois nos permite estabelecer um curso para as ações em nosso cotidiano. Com objetivos predeterminados, asseguramos mais tranquilidade ou “jogo de cintura” para a futuridade que envolve nossas decisões do presente. As diversas publicações sobre o assunto reforçam que planejar é identificar metas e objetivos a serem alcançados, sair em busca de recursos, traçar estratégias viáveis para pavimentar o caminho desejado e obter meios de controle para garantir o acesso ao que colocamos como intuito desejado. É algo que requer flexibilidade. E mais: as nossas escolhas são sempre baseadas em algo, não seleções aleatórias. A pessoa bem planejada compreende isso.
Durante a sua apresentação, você trouxe um esquema metodológico bem minucioso. Pode expor por aqui para os nossos leitores?
Para execução de um bom planejamento, torna-se fundamental que a pessoa delineie algumas perguntas básicas em seu projeto: o que pretendo? (objetivo) Por que desejo esse objetivo? Onde será realizado? Quando será realizado? Quanto vai custar? (metas) Como farei para alcançar o objetivo? (método), as metas estão sendo atingidas? Alcancei meus objetivos? O que posso modificar? Quais os riscos que podem afetar meus resultados? E como faço para minimiza-los? (revisão do processo). Com estes direcionamentos, o indivíduo consegue estabelecer um efetivo planejamento estratégico pessoal, método eficaz para gerenciamento da vida, algo que permite também melhorar o desenvolvimento de circunstâncias da vida pessoal, potencializando um bem preciosíssimo na contemporaneidade: o tempo, haja vista a série de dispersões que encontramos em nossos caminhos. Por meio da mudança de hábitos e atitudes, gerenciamos também recursos pessoais. No geral, o objetivo do planejamento pessoal é permitir que o indivíduo aprenda a planejar sua evolução em todas as esferas da vida, utilizando os recursos que possui, bem como as possibilidades e oportunidades que o mundo nos oferece

Uma das passagens do evento trouxe como epígrafe o filósofo Immanuel Kant. O excerto era: “o autoconhecimento é um processo essencial na vida de cada um”. Você sempre reforça as suas próprias palavras com citações, referências, dentre outros. É uma estratégia com algum proposito específico?
Sim, afinal, não construímos conhecimento sozinho, há todo um processo de conexões. E repertório cultural é algo que tenho reforçado há tempos com meus estudantes. Conhecer um pouco de filosofia, cultura, política permite maior compreensão de fenômenos do cotidiano. É uma ferramenta de extrema riqueza. E também nos habilita para a melhor comunicação, estabelecimento de empatia, resiliência, etc. No caso de Kant, dono de uma filosofia complexa e pouco acessível para qualquer pessoa, trouxe esta citação para versar sobre o autoconhecimento como um requisito basilar para o inicio do nosso processo de sabedoria. Isso nos remete para um tema debatido em planejamento de carreiras: o intercâmbio pessoal, isto é, olhar para si mesmo e traçar definições com questionamentos: quais os seus valores, ambições, pontos fortes e frágeis? Algo ligado ao que refletimos como Matriz SWOT pessoal, a ser tratado mais adiante. Compreender as nossas limitações, missões, pontos de questionamento que nos permitem uma evolução melhor. Ao identificarmos os nossos recursos e aspirações, somos capazes de direcionar nossa trajetória por caminhos mais sólidos. Importante, antes de passarmos para o próximo tópico, é reconhecer quais são os nossos recursos subjetivos e os materiais. Os subjetivos são as coisas que não podem ser tocadas, isto é, conhecimento, habilidades e pontos fortes. Já os recursos materiais são os computadores, livros, revistas, em geral, todos os materiais que dispomos para dar segmento aos nossos projetos. Parece algo simplório, mas entender e desenhar tudo isso em nosso planejamento faz toda a diferença, acreditem.
Trazer a questão do planejamento de carreira em meio ao panorama histórico que você estabelece é uma estratégia de ampliação do repertório cultural/conhecimentos gerais dos estudantes?
Sim, pois sempre defendo que qualquer assunto deve sempre ganhar um debate exploratório com desenho de um painel histórico. Entender o presente requer refletir sobre o passado e delinear projeções futuras. Se questionar sobre os possíveis rumos do caminho que determinado tema segue, sabe? Em Quais Carreiras e Para Quais Sociedades, o autor Jean François Chanlat expõe que a ideia de carreira nasceu com a sociedade capitalista liberal, isto é, a nova organização da fundada por meio das ideias de igualdade, liberdade de êxito individual e forte progresso econômico e social. Posterior ao advento da Segunda Grande Guerra Mundial, houve crescimento das complexidades organizacionais, algo que permitiu a ocorrência de maior demanda por estudos que apontassem como os indivíduos e empresas lidam com as suas respectivas carreiras. O autor destaca que o significado de carreira tem a ver com as sequências de posições ocupadas e de trabalhos desenvolvidos durante a vida profissional de um indivíduo. Neste encontro, passamos rapidamente pelo fordismo, taylorismo, compreendemos os avanços tecnológicos, dentre outros fatores que transformaram a relação da humanidade com o trabalho.

Algo considerado arriscado por leigos, mas defendido em sua apresentação, é a observação sobre evolução na carreira profissional, algo que envolve mudanças constantes. Para isso, você trouxe o planejamento associado ao tópico âncoras de carreira. Explica esse conceito em associação com o estudo de gerações apresentado?
É importante trazer estas discussões ao debater planejamento de carreira. Teoricamente, as gerações são pensadas como grupos de indivíduos que vivenciaram determinados momentos históricos de grande relevância durante seus processos de socialização. Resumindo, podemos dizer que é parte do processo histórico que indivíduos da mesma idade e classe social compartilharam as suas experiências. Tal vivência traz em seu cerne a oportunidade destas pessoas processarem acontecimentos de formas semelhantes, moldando seus valores e formas de pensar ao longo de suas vidas. Assim, a influência social destas gerações conecta-se diretamente com as suas carreiras, caminhos trilhados em suas vidas conforme suas expectativas, visões de mundo e necessidades. Em minhas aulas e demais apresentações, delineio os principais aspectos da geração baby-boomers, geração X e Y. Em linhas gerais, âncora de carreira é uma combinação de talentos, valores, competência e motivos dos quais não se abre mão na hora de fazer decisões sobre a vida profissional, assim, estas âncoras são tendências pessoais que servem para guiar decisões individuais, ou seja, são várias as habilidades e motivações que orientam e integram as experiências profissionais por toda vida. Para pensarmos as âncoras de carreira, devemos alinhar as oito opções delineadas por Schein: autonomia/independência, segurança/estabilidade, competência técnica-funcional, competência gerência geral, criatividade empresarial, serviço ou dedicação a uma causa, desafio puro e estilo de vida, tópicos explicados em mais detalhes no infográfico que disponibilizei para vocês ilustrarem esta conversa.
Muito interessante o seu destaque para duas palavras-chave no planejamento de carreira assertivo: autoestima e carisma. Parece uma questão óbvia, mas vale a pergunta para ampliar o potencial de aprendizagem aqui também em nossa entrevista: é preciso ser carismático e ter autoestima, algo tão pessoal, para uma carreira mais firme?
Sem dúvida, autoestima e carisma, junto com a boa comunicação, são agentes transformadores no planejamento de nossas carreiras. O carisma é algo muito natural na trajetória de uma pessoa. Mesmo que não seja legal ser forçado, é preciso buscar melhorar caso a pessoa não possua uma gota deste bem valioso, sabe? Quem é carismático consegue ir além e ganhar vantagens nos processos competitivos. Ser elogiado como carismático é um elogio “daqueles”. É considerado sereno, espirituoso, irradiador de boas energias. São pessoas que costumeiramente, passam uma imagem de convincentes, persuasivos e amistosos. Promovem interações importantes, bom relacionamento interpessoal e com isso, garantem maior credibilidade para si. Sobre a autoestima, precisamos entender que estava palavra-chave carrega em si a soma de autoconfiança e autorrespeito. É algo que influencia o modo como lidamos com os nossos problemas e com isso, melhorar nosso enfrentamento diante de obstáculos. A autoestima é um requisito ideal para uma vida mais satisfatória, pois é um elemento que afeta todos os aspectos de nossa existência, do trabalho ao âmbito pessoal. Basicamente, a autoestima é a relação que a própria pessoal tem consigo mesma. É um processo que envolve apreciação, respeito e confiança diante de quem a pessoa acha que ela é. Pra quê algo melhor para sobreviver num mundo de tantas turbulências? E, com isso, temos a conexão com a comunicação. Esta é a base para o indivíduo adquirir autorrealização tão necessária no âmbito pessoal e no planejamento de sua carreira. Uma boa comunicação verbal e não verbal passa a mensagem conforme se quer que ela seja entendida pelo interlocutor. Tanto na fala quanto na escrita, combinado?
Professor Leonardo, destaca para os nossos leitores a importância da adaptabilidade e os 4 Cs apresentados em sua fala?
É uma fala que se encaixa lá pelo meio da exposição sobre evolução de carreira. Ao menos, em meu planejamento. O processo de adaptabilidade se dá quando o indivíduo possui a capacidade para lidar com tarefas diversas e transições no desenvolvimento de carreira. Temos os eventos previsíveis, tais como resultado de formação, qualificação e aposentadoria, bem como os eventos imprevisíveis, encaixando-se nesta abordagem esquemas que possam levar ao desemprego ou o surgimento de alguma doença incapacitante. Constroem-se, então, a adaptabilidade em quatro dimensões: consideração (concern), controle (control), curiosidade (curiosity) e confiança (confidence). A consideração envolve uma perspectiva temporal que orienta em direção ao futuro, ancorando-se em esperança e otimismo. O controle envolve as estratégias utilizadas para a necessária autorregulação diante de ajustes às demandas, isto é, o controle que a pessoa exerce em seu contexto. A curiosidade envolve os importantes comportamentos de exploração ativa acerca das possibilidades de manutenção de cenários alternativos que podem ser explorados quando a pessoa que planeja bem a carreira pensa em outras atuações. E, por fim, a confiança, algo que envolve a capacidade de mantermos aspirações e os nossos objetivos a despeito dos obstáculos que surgem em nossa caminhada. É uma teoria proposta por M. Savickas em um livro sobre Life Design.

Em sua apresentação, os conceitos de carreira em Y e W foram um dos momentos mais longos, porque sempre havia dúvidas. Explica para o nosso leitor estes modelos?
São modelos de plano de carreira. A pessoa não precisa seguir exatamente um ou outro, mas são opções que podem ser dialogadas conforme o cenário de atuação do indivíduo. No plano de carreira em Y, o profissional encontra dois caminhos de crescimento para trilhar. Pode escolher por assumir um cargo gerencial ou se adaptar para a especialização dentro de uma determinada área técnica. Neste modelo de plano, o que se objetiva é valorizar as pessoas de acordo com as suas competências de maior destaque. Além dos cargos de gerenciamento e liderança, há a valorização de uma possível habilidade técnica para se desempenhar. É um modelo focado no conhecimento teórico e técnico abundante, conhecido por ser trilhado por pessoas que sempre propõe ideias inovadoras. Na carreira em W, o profissional se encontra com um caminho repleto de flexibilidades. É para aqueles que pretendem ter experiências múltiplas dentro do ambiente de trabalho. É um modelo que permite ao profissional trabalhar tanto na parte técnico quanto em cargos de liderança. É um plano que objetiva o desenvolvimento de talentos mergulhados na versatilidade, indivíduos aptos para atuar em demandas diversificadas no âmbito da empresa. A carreira em W tem sido uma forte tendência mercadológica. Profissionais desta linha costumam forma-se de maneira multidisciplinar, dotados das mais importantes soft skills. A capacitação e o conhecimento técnico são as palavras-chave de suas buscas constantes. Além dos planos em Y e W, falamos também da carreira linear, horizontal e em rede, termos comuns no âmbito do planejamento de carreiras, tópicos delineados no infográfico disponibilizado para contemplação dos leitores desta entrevista que cresceu tanto... tá parecendo um artigo (risos).

Um conteúdo aparentemente simples que promoveu muitas perguntas: a diferença entre Mercado de trabalho e Mercado de RH. Expõe para os nossos leitores estas diferenças e como elas influenciam no planejamento de carreira?
Esse é um dos tópicos trabalhados em planejamento de carreira. Algo simples e objetivo: basicamente, o mercado de trabalho é engloba as vagas que existem em um determinado lugar, durante um determinado momento da trajetória de um indivíduo no planejamento de suas metas. Já o mercado de recursos humanos representa o número de candidatos que se disponibilizam a preencher essas vagas. Quando trabalho com este tópico, apresento as considerações de Chiavaneto (2005), autor que define o seguinte: se o mercado de trabalho são as oportunidades de emprego que as empresas proporcionam, o mercado de recursos humanos é o conjunto de profissionais que oferecem seus conhecimentos e habilidades a essas vagas de emprego. Ademais, a conversa se prolonga. Exponho e os levo a entender que a compreensão da situação do mercado de recursos humanos nos leva a concluir que ele nada mais é que um espelho do mercado de trabalho. Simples: quando o mercado de trabalho estiver em oferta, o mercado de RH, automaticamente, estará em procura e vice-versa. Cabe aos integrantes da área de recursos humanos se organizar para administrar as relações da organização com as pessoas que fazem parte de seu quadro, consideradas no contemporâneo parceiras do negócio. É tarefa do profissional de recursos humanos deve desenvolver, manter e monitorar pessoas, num acompanhamento constante que também envolve recompensas.

Um dos tópicos que mais rendeu foi a abordagem sobre Networking. Considera um tema polêmico dentro do debate sobre planejamento de carreira?
Traduzindo, network é uma terminologia em língua inglesa para designar rede de relacionamentos, ou, rede de contatos. Ter um bom networking é manter uma boa rede de pessoas para troca de informações e conhecimento entre si. É algo essencial para a execução do planejamento de carreira, uma vida de mão-dupla, onde ora você se beneficia, ora o outro pode ser o beneficiado. Manter contato frequente e não apenas quando se precisa é uma regra básica. Se desconectar e manter contatos presenciais também é importante para refletir diante do interesse de estabelecimento de um bom networking. Ser pontual nos compromissos, ter empatia e demonstrar interesse ao interagir com as pessoas, montar um portfólio com os seus principais trabalhos, trocar experiências e ter diálogos construtivos. Para os momentos acadêmicos, frequentar cursos e palestras é uma regra basilar. Realizar pesquisas, participar de projetos exteriores ao ambiente da sala de aula, se inscrever em oficinas, rodas de conversa, eventos culturais, dentre outros. Ter um perfil no Linkedin pode ser também uma eficiente estratégia para ter uma rede de relacionamentos onde a colaboração é recíproca entre profissionais. Exercitar a troca é algo muitíssimo importante. Evitar arrogância e pensar em no outro é um passo fundamental para permitir que os planos sejam exitosos. Ser útil, visível, buscar pessoas com interesse em comum e ter uma abordagem criativa e sincera são caminhos para pavimentar essa caminhada sempre em transformação.

Achei fascinante a maneira como abordou as hardskills e as softskills. Para isso, você utilizou trechos do filme Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento. Destaca essa abordagem em linhas gerais para o nosso público?
Hard skills são as competências técnicas, aquilo que a pessoa traz em seu perfil profissional. Cursos, eventos, certificações, diferente das soft skills, habilidades sociais e emocionais, tópico inserido nas competências debatidas em nosso encontro sobre Inteligência Emocional. Algumas das soft skills mais buscadas por recrutadores: comunicação interpessoal, persuasão, proatividade, resiliência, resolução de conflitos, liderança, confiança, criatividade, comunicação e organização. Erin Brockovich, protagonista que intitula a narrativa, é uma mulher com hard skill abaixo da média, mas muitos tópicos de soft skills que a permitem superar as pessoas formadas e gabaritadas, indivíduos que acreditamos ter mais capacitação para resolver os conflitos do processo judicial que ela desperta na empresa ao vasculhar documentos que estava indo rumo ao arquivo. Com curiosidade aguçada, perspicácia e foco, ela consegue transformar não apenas a sua vida, mas a de todos que gravitam em torno de sua existência. Vale a pena conferir o filme e depois ouvir o podcast que encerra a primeira temporada de Planejamento de Carreira em Perspectiva, disponibilizado pelo portal de notícias 071 News.
Sobre planejamento estratégico: você trouxe uma série de exemplos por meio de mapas mentais, resolução de questões e conteúdos audiovisuais. Foi uma alternativa para tratar de um assunto muito complexo?
Aulas somente expositivas são demasiadamente cansativas e não conseguem reter a atenção do aluno no contemporâneo. O ideal é fazer uma mixagem de alternativas, tendo em vista estabelecer o processo de ensino e aprendizagem, dialogando com as necessidades comunicacionais do nosso público. Começo geralmente com questões diagnósticas, para avaliarmos o que sabemos sobre aquele conteúdo. Passamos depois para a sua correção comentada, antecipação de um trecho breve, mas elucidativo, de exposição tradicional. Mais adiante, insiro um ou dois vídeos do Youtube, neste projeto, as palestras do TEDx, eventos que dialogam sobre questões diversas. Ao invés de questionar o que os estudantes acharam do vídeo, aplico questões no estilo ENADE sobre o material assistido, tendo como foco dialogar de maneira mais organizada sobre todos os aspectos possíveis do material audiovisual. Voltamos para mapas mentais, resolução de outras questões, roda de conversa tendo algum texto ou filme como ponto de partida para debate. Assim, as aulas ficam mais dinâmicas e atrativas. Todo mundo sai ganhando, inclusive o docente, pois assim saímos da zona de marasmo que nalgumas situações, mergulhamos quando pegamos uma turma mais complexa (leia-se: desinteressada).
Além de Erin Brockovich, sua apresentação trouxe outras narrativas, tais como O Diabo Veste Prada, Um Senhor Estagiário, dentre outros. Qual a linha de abordagem para cada um deles, professor?
Como meio de aprendizagem concreta, os filmes proporcionam material para debater diversos temas do âmbito de planejamento de carreira. Com Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento, debati a importância da pesquisa, o acesso aos documentos públicos como exercício cidadão, a necessidade de potencialização das soft skills e hard skills, dentre outros temas que tangenciaram Pegando Fogo, o drama com Bradley Cooper como chef renomado, mas em decadência, narrativa que nos ajudou a refletir sobre a Inteligência Emocional no ambiente pessoal e profissional. Todos estes temas também estão, de certa maneira, em Uma Manhã Gloriosa, trama sobre uma editora de televisão que precisa se reinventar depois da demissão inesperada numa emissora da qual ela investiu muito de seu planejamento. A palavra-chave do debate foi a resiliência, refletida sem romantizar o termo e exaltar a precarização da saúde em prol do trabalho. Fome de Poder, cinebiografia de Ray Croc, promoveu discussões sobre ética no ambiente profissional. Um Senhor Estagiário trouxe contribuições consideráveis sobre relacionamento interpessoal, modelos de gestão, empatia, bem como equilíbrio entre vida pessoal e profissional, um tópico temático que permeou as reflexões em O Diabo Veste Prada, um clássico moderno que abriu o nosso encontro e estabeleceu discussões sobre marketing pessoal, comunicação assertiva, networking, dentre outros.
Chegamos ao desfecho da nossa entrevista. Professor Leonardo, em linhas gerais, deixa uma mensagem para os nossos leitores sobre os caminhos do planejamento de carreira?
Gerenciar a carreira é um processo onde os indivíduos desenvolvem, implementam e monitoram as metas e estratégias que permitirão um planejamento devidamente estruturado. Por esse caminho é possível mais produtividade a alcance de autorrealização. A carreira é algo entendido como um processo. Requer ajustes entre características pessoais e profissionais, trajetória a ser pensada de maneira a organizar bem as estratégias, tendo em vista saber lidar com os obstáculos e transições quando necessárias. Dois conceitos não citados por aqui se fazem imprescindíveis: autoconceito e saliência de papel. O primeiro diz respeito ao modo como o indivíduo se percebe ou aquilo que acredita ser, conceito que também ajuda a pessoa na forma como ela vê o outro e acredita ser visto pelo outro. É um conceito para ser traduzido em termos ocupacionais. Saliência de papel é a importância que uma determinada pessoa dá a um papel em relação aos demais que desempenha no contexto social. Algo tipo: pai/mãe/responsável, trabalhador, estudante, dentre outros. Compreender o lugar de cada papel e a sua importância no cotidiano são fundamentais para um bom planejamento de carreira. Vale lembrar que não são terminologias minhas, mas conceitos tratados dentro dos debates sobre planejamento. Em suma, compreender o que deseja para os seus respectivos percursos profissionais, algo que os teóricos tem chamado de life design.
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